O homem e o tempo

Padrão

Eclesiastes 3:9-15

9 O que ganha o trabalhador com todo o seu esforço?

10 Tenho visto o fardo que Deus impôs aos homens.

11 Ele fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender inteiramente o que Deus fez.

12 Descobri que não há nada melhor para o homem do que ser feliz e praticar o bem enquanto vive.

13 Descobri também que poder comer, beber e ser recompensado pelo seu trabalho, é um presente de Deus.

14 Sei que tudo o que Deus faz permanecerá para sempre; a isso nada se pode acrescentar, e disso nada se pode tirar. Deus assim faz para que os homens o temam.

15 Aquilo que é, já foi, e o que será já foi anteriormente; Deus investigará o passado.

No início do capítulo 3, o Eclesiastes falou das várias situações pelas quais o homem passa, ou seja, seus “vários tempos”. A preocupação desta parte do capítulo é apresentar uma noção de tempo maior do que aquele que passa, ou que fica no passado, mas aquela que o define em si mesmo: o tempo é, independente do homem, ou do seu efeito na sua vida.

Os versículos 9 e 10 apresentam um conceito já trabalhado pelo Eclesiastes, o de que o trabalho, antes de trazer felicidade e realização, traz peso e cansaço. Fiquei um bom tempo analisando esta parte inicial. Me parece estranho Eclesiastes reapresentar este conceito, justamente em um momento em que não fala de trabalho, mas fala do tempo. Então pensei um pouco mais e considerei o seguinte: o tempo tem maior efeito em nós naquela coisa que mais nos motiva:

  • sermos úteis (naquilo que posso dizer “eu posso fazer”);
  • fazer planos (naquilo que posso dizer “eu farei”); e
  • alcançarmos objetivos e realizações (naquilo que posso dizer “eu fiz”)

Desde que nos entendemos por gente sabemos que o tempo é um fator crucial para alcançar estas três coisas. Aliás, antes mesmo disso, já sabemos que o tempo é terrivelmente implacável. Lembro que, quando criança, quando minha mãe dizia para parar a brincadeira e chamava para voltar para casa eu dizia “jazin, mãe!”. Isto se repetia mais algumas vezes, até que ela dava aquele olhar (imagino que você conheça “o olhar”). Você, que já foi criança, lembre-se o quanto já pediu a Deus que sua mãe não lhe chamasse justamente naquela hora que a brincadeira estava mais legal, que tivesse mais tempo. Isso não é exclusividade de crianças, mas de crianças crescidas também 🙂

Como gerenciar o tempo?

Você já deve estar cansado de ouvir por aí (ou de você mesmo dizer) que está sem tempo; que o tempo não é suficiente para fazer o que precisa; que os dias passam mais rápidos a cada dia. É fato que lidar com o tempo é um dos grandes problemas insolúveis da humanidade (com direito àquela risadinha cretina na vinheta do “Casseta & Planeta”). Discussões sobre isto não faltam e, para iniciar o assunto, se você estiver com tempo para ler, pode começar pelos links a seguir.

Se você não teve tempo para ler e ainda continua por aqui, vamos em frente. Aliás, aproveitando, se você ainda está aqui, que Deus o continue abençoando. Pode ser que você se ache alguém sem paciência, mas ler os textos aqui do blog são, com toda certeza, um grande exercício. Este servo fica feliz em ser útil.

Ah… organização do tempo. Eita coisa difícil! Não sou das pessoas mais organizadas, mas não sou das mais “baguncentas”. O que não quer dizer que eu goste de faxina ou de utilizar muitas técnicas de organização. Entretanto, tenho aprendido o quanto tenho necessidade de fazer isto. Preciso mesmo de organização. O motivo disto é porque há um tempo assumi a responsabilidade de ser empresário (como você já deve ter lido por aqui) e não tem sido fácil; é muita coisa ao mesmo tempo (Deus, família, namoro, estudo, trabalho:aulas, trabalho:pesquisa, trabalho:empresa, colegas de trabalho, alunos, pessoas). Eclesiastes usou uma palavra que muitas vezes é bastante adequada: fardo. Não vou chegar aqui, ser altruísta extremo e dizer: não… pessoas não são fardo, nem família, nem namoro, nem igreja ou Deus… se você fizer tudo com amor, nada é um fardo. Aprendi isto, que o amor não elimina a existência do fardo, mas permite suportá-lo. Então, se você estiver falando em amor, preocupe-se em entender que a única coisa que pode, realmente, nos fazer suportar o fardo é a expressão maior do verdadeiro amor: Jesus Cristo. Jesus falou a este respeito em Mateus 11:28-30.

Fardo ou não, já cheguei a pensar que se tivesse mais horas no dia faria mais coisa (e às vezes este pensamento me persegue). Sendo muito sincero, é por isso que meu dia (período de atividade) vai até altas horas da madrugada. Concordo com você que não é certo, mas o momento, agora, não me permite fazer diferente. Se você leu algum dos textos indicados vai perceber que é uma tendência dos nossos dias: técnicas de gerenciamento do tempo para aumento da produtividade. Em outras palavras, como fazer mais coisas com o mesmo tempo. Além disso, geralmente as técnicas incluem também como manter a qualidade das coisas (porque não adianta fazer muita coisa de baixa qualidade). Achei interessante como o “Produtividade Ninja” fala sobre um autor que diz sobre ser incorreto dizer “gerenciar o tempo”, porque ninguém consegue fazer isso, mas se consegue “gerenciar escolhas” (e atividades, acrescento). Independente do seu entendimento disso, é mesmo um desafio e tanto.

Assumindo o controle do seu tempo (ou “Você, senhor do seu tempo”)

Muito interessante o título do blog da Você S/A “Senhor do seu tempo”. O objetivo das técnicas que comentei antes é justamente este: controle. Uma das técnicas usadas (vide o blog em questão) é justamente a de pagar por pessoas para fazerem por você o que você quer fazer, mas não pode. Soa estranho, mas é basicamente o que já tem sido feito há anos (contratar alguém para fazer um serviço qualquer), só que com um enfoque mais direcionado, mais empresarial. Por exemplo, por que passar um tempão organizando uma agenda enquanto você pode pagar para alguém fazer isto por você e você pode utilizar seu tempo para fazer outras coisas? Por falar nisto, é justamente esta a proposta desta empresa: http://www.neotriad.com.br. Sim, o contexto é desenvolvimento de software e processos, mas, tenho certeza, há outras por aí que fornecem um serviço semelhante para outras áreas.

O que está por trás das ideias das técnicas é justamente a noção de que é possível, prático e realizável controlar o tempo. Em outras palavras ainda, é possível assumir o controle da sua vida.

Assuma o controle da sua vida! (ou Você quer, você pode!)

Observo bastante (embora não ainda como eu gostaria) o rumo que as coisas têm tomado nos nossos dias quando se trata de vida, controle, realização, felicidade. Hoje em dia não é apenas espiritualidade o que o homem busca, mas, em si, realização, que passa pelos caminhos, da religião, do auto-conhecimento e do pensamento positivo. Se gosta de ler sobre o assunto, olha um pouco aqui:

Vou resumir um pouco, se você não estiver com tempo de ler:

  • tenha confiança em si mesmo (acredite em você e no seu potencial); você é um vencedor
  • não tenha medo
  • projete, planeje e visualize (visualizar é no sentido de não ser suficiente apenas pensar, por exemplo, em um carro, mas enxergar a figura do carro que você quer)
  • aceite que fracassos acontecem
  • tenha iniciativa
  • 10% da sua vida está relacionado a coisas que você não controla, mas 90%, a coisas que dependem exclusivamente de você e da forma como você as enxerga
  • resolva situações complexas por partes
  • pare de culpar os outros e outras situações; o culpado é você mesmo (semelhante ao 10/90)
  • pense positivamente (quanto mais você pensa negativamente, atrai coisas negativas; se pensar positivamente, irá atrair aquilo que deseja)
É… este é um campo muito vasto de assuntos variados este. Se você ainda tiver um pouco mais de coragem, leia sobre Neopentecostalismo e Teologia da prosperidade (pode começar aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Neopentecostalismo).
A partir daí, é possível descobrir a motivação para todas estas teorias e falas: controle e realização. É tudo o que o homem quer. O tempo é, na verdade, um fator secundário. Se tiver mais tempo e estiver tudo bem, ótimo. Se tiver pouco tempo e estiver tudo bem, ótimo. Só não pode é estar ruim. Por “ruim” entenda: fora do controle. As coisas só estão boas quando estão sob controle, como se diz: tudo vai bem quando acaba bem.

Para iniciar o assunto do texto, Eclesiastes chama a atenção para a visão humana de que tudo gera cansaço, mas, na verdade, o objetivo do texto não é este. Embora toda a discussão até aqui não tenha sido em vão, isto é apenas uma introdução. No versículo 11, Eclesiastes apresenta três conceitos importantes:

  1. Deus fez todas as coisas apropriadas no seu tempo
  2. Deus colocou no coração do homem o anseio pela eternidade
  3. O homem não consegue compreender a eternidade
Se você for um pouco mais atento, principalmente analisando os textos anteriores, verá que o discurso do Eclesiastes tem uma mudança aqui. Além da sua preocupação com as coisas como elas são, ele começa a apresentar uma preocupação com as coisas como Deus as quer.
Cara, como Deus complica as coisas. Olha só a situação: Deus faz o homem desejar a eternidade, mas o homem não consegue compreendê-la. Que impasse! Mas, veja, perceba a mudança: é realmente um impasse, mas se Deus fez todas as apropriadas no seu tempo (ou as coisas certas no tempo, ou o tempo certo para as coisas), então há um propósito de Deus em o homem desejar aquilo que não entende. Como assim?
A lição que o Eclesiastes quer começar a trabalhar conosco é que o homem deve reconhecer a soberania de Deus. Ele criou todas as coisas no tempo certo; bem como tem controle sobre a sua criação. Ele não poderia ter colocado no homem o entendimento da eternidade ao mesmo tempo em que colocou este conceito do “eterno” e o desejo dele? Sim, poderia, se o quisesse. Eclesiastes reconhece que tudo o que o homem pode comer, beber e usufruir do benefício do trabalho (embora já tenha falado sobre o trabalho só trazer cansaço) é um presente de Deus (versículo 13). Opa, alto lá! Isso aqui não pode passar desapercebido. Eclesiastes disse mesmo o que acabamos de ouvir? Beber, comer e receber benefício do trabalho é presente de Deus? Presente? Está mesmo certo isso? Não seria uma obrigação de Deus dar estas coisas ao homem? Principalmente àquele que faz o bem na vida (versículo 12)? Não é salário, é presente. Se é presente, então é algo que Deus dá, é de bom grado, de graça (embora nossa cultura geralmente associe “presente” a “bonificação por boas ações”).
No versículo 14, Eclesiastes continua reconhecendo a soberania de Deus, dizendo que tudo o que Deus fez (de tão perfeito é, podemos dizer assim) nada precisa de acréscimo ou subtração. Deus faz isto para que os homens o temam (outra tradução dá sentido de “respeito”, “obediência”).
No versículo 15, Eclesiastes reapresenta um conceito (o que é e o que será já foram, antes), mas termina com um sentido diferente: Deus investigará o passado. O mesmo Eclesiastes que já disse que nada haveria de melhor para o homem do que beber, comer e usufruir das mais diversas formas de prazer, adiciona ao seu discurso o fato de que o passado não está oculto de Deus, pois ele investigará todas as coisas. Não tenho ferramentas para analisar o tempo da escrita do texto, mas a mudança no discurso do Eclesiastes é visível.
Quem está no controle? Deus. Quem sabe o tempo certo para todas as coisas? Deus. Para quem são todas as coisas? Para Deus. Tá, mas e as coisas lá do início do texto? As técnicas de gerenciamento do tempo, o pensamento positivo, o “eu posso, eu faço” e o “eu desejo, eu tenho”? Vamos lá, não é um exercício muito difícil, mas consegue perceber a divergência de opiniões (por assim dizer)? Temos feito coisas demais, preocupando-nos apenas conosco [mesmo]. Eclesiastes fez isto também, mas começou a mudar o seu discurso. Entendeu que era preciso sair do centro da sua vida e, ao invés de assumir o controle dela, entregá-la totalmente àquele que é o Senhor da vida; que é o Senhor do tempo.
Eu e você podemos pensar positivamente até queimar fios de cabelo, não teremos nada se Deus não quiser que tenhamos. Isto é o ensino do Eclesiastes. Deus é soberano.
Pensando sobre isto, Paulo escreveu aos Romanos o seguinte (Romanos 11:33-36):

33 Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e inescrutáveis os seus caminhos!

34 “Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? ”

35 “Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense? ”

36 Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém.

Jesus disse (Marcos 8:36):

Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?

Estes dias conversava com uma amiga sobre a situação de um grande empresário do mundo da tecnologia, Steve Jobs, que recentemente deixou a direção da Apple, provavelmente para cuidar da saúde pessoal. É inegável a contribuição que ele deu ao mundo, e não estou dizendo coisa alguma sobre a relação entre ele e Deus, mas se ele não tiver aceito Jesus no seu coração, nada mudará o fato de que o único destino da sua alma será aquele que ninguém quer: a morte eterna (e que como ouvi alguém dizer esta semana, nem quer saber se for mais quente do que Palmas).

Como é possível compreender a eternidade? Como é possível compreender o tempo, as coisas, propósito delas e o próprio Deus? Jesus e o Espírito Santo de Deus nos dão entendimento da Sua Palavra. O que faço aqui no blog não é nada excepcional no sentido de criação individual. As palavras, já chamadas sábias, não são minhas, mas daquele que por mim fala. Sei que pode parecer uma pretensão gigantesca, mas não é, pelo contrário, sempre oro e peço a Deus que não permita que nada que seja publicado aqui seja além ou aquém da Sua Palavra, mas apenas ela mesma; sei que Ele mesmo terá um cuidado (como tem) com isso. Sou apenas servo, aprendendo, como você. Então, até mesmo por isso, não se preocupe e não se acanhe, pergunte, questione.

A receita é, então, muito simples, sem segredo algum. Tiago 1:5:

Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida.

Para finalizar, a Palavra de Deus não diz que não devamos planejar, trabalhar, e nem que não possamos ter bens. Diz que o salário do trabalhador é dívida (1 Timóteo 5:8, Romanos 4:4), você viu Eclesiastes falando que é bom que o homem seja feliz, que aproveite do seu trabalho e das coisas que trazem prazer e felicidade, mas diz também que é preciso saber que Deus investigará o passado (as coisas que foram feitas e as pessoas que as fizeram) e também que o homem pode fazer planos, mas a resposta certa vem do Senhor (Salmo 33:11, Provérbios 16:1, Provérbios 19:21).

Assuma o controle de sua vida: entregue-a a Deus. A eternidade com Jesus não será um fardo e, na verdade, nem mesmo o momento (vida) atual, independente de coisas boas ou ruins lhe acontecerem. Faça planos, organize sua vida, faça o bem, mas lembre que de tudo isto, somente Deus importa e para a glória dEle são todas as coisas.

Só Jesus Salva! Aleluia!

Graça e Paz!

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