Não é mais uma [outra] história de Natal

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Ah, o Natal… Se você observou pessoas ou acompanhou o que aconteceu nas redes sociais ultimamente deve ter notado que o nosso comportamento nesta data tende a demonstrar afetividade, compaixão e outra série de sentimentos nobres e que merecem devida consideração. Deve ter notado, também, diversos comentários sobre o verdadeiro sentido do Natal, sobre a relação disso com o nascimento de Jesus Cristo e o quanto é necessário diminuir a visibilidade de certos símbolos “natalinos”, como “Papai Noel” (embora continuemos, cristãos inclusos, a dar presentes e a dizer que foi o “Noel” ou que a criança precisa ser boazinha para ganhar o que quer no final do ano — infelizes somos). Creio que você deve ter visto isso das mais diversas formas. Ultimamente não são apenas imagens temáticas em redes sociais, mas também os vídeos extremamente trabalhados para gerar comoção e empatia (aqueles em que crianças contam a história do Natal e da Páscoa são realmente primorosos). Não descarto todas estas coisas, e não é propósito desta postagem fazê-lo. Entretanto, há uma questão em torno disso tudo que me tira o sono (literalmente), portanto devo dar voz ao que ecoa na mente e no coração.

O objetivo deste texto é chamar atenção para o que está associado ao “feliz natal” que tanto é ouvido nestes dias como se fosse mais uma saudação dentre as criadas para socialização entre os iguais (!). Assim, te convido a, olhando pela Palavra de Deus, pensar a respeito do contexto geral no qual está inserida esta expressão e, desta forma, valorizá-la ainda mais.

Falado aos Coríntios, Paulo escreveu assim:

Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram.
E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.
Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo.
Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.
E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação;
Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.

2 Coríntios 5:14-19

O que Paulo apresenta neste trecho, sobre a reconciliação com Deus, em resumo, representa muito do que está relacionado ao nascimento de Jesus Cristo, entretanto, gostaria de discorrer mais a respeito.

A existência de Jesus Cristo

Geralmente, quando pensamos em “Natal” o associamos ao nascimento de Jesus Cristo. Este pensamento tem, pelo menos, dois aspectos:

  1. Jesus Cristo, como Deus, existe na eternidade, sem início e sem fim (João 1, Filipenses 2:6)
  2. Jesus Cristo, como homem, nasceu [como homem], passando a existir no tempo (Lucas 2)

O “Natal” considera apenas o segundo aspecto (até mesmo porque é o significado mais direto para seu próprio nome — nascimento). Desta forma, o “Natal”, evidenciando a natureza humana do Cristo, reduz sua existência (tenta) a cerca de 33 anos.

Se Jesus Cristo, como Deus, existe na eternidade, por que foi necessário que ele nascesse e por que o modo do nascimento teria alguma importância?

O nascimento de Jesus Cristo, homem

Jesus Cristo, homem, nasceu sem pecado. Ele não foi concebido por meio de relação sexual entre José e Maria (ainda não eram casados), mas por obra do Espírito Santo (Mateus 1:18-20).

Não quero dizer com isso que o sexo é pecado, mas falo da concepção física, natural, orgânica e biológica do menino Jesus que, como aconteceria a todo homem, herdaria de Adão (por meio de quem entrou o pecado no mundo) a decadência natural por ocasião da desobediência (1 Coríntios 2:14, Efésios 2:1-5, Romanos 3:23, Romanos 5:12). Sabemos que homem e mulher compartilham informação genética para a formação de um novo ser. A ação do Espírito Santo desconsiderou esta regra biológica — e o como eu nem me atrevo a tentar pensar em responder (embora esse cara aqui tenha tentado: http://www.asa3.org/ASA/PSCF/1983/JASA9-83Kessel.html). A própria Maria perguntou ao anjo da anunciação a respeito de como seria esse negócio da concepção divina:

Perguntou Maria ao anjo: “Como acontecerá isso, se sou virgem? ”
O anjo respondeu: “O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus.

Lucas 1:34-35

A resposta do anjo foi suficiente para indicar que o ato da concepção seria um milagre divino. A necessidade disso se deu por causa de um fator fundamental para os planos de Deus: Jesus Cristo, como sacerdote final e suficiente para a expiação de pecados, não poderia ter, ele mesmo, pecados (Hebreus 4:14-15).

Qual seria o motivo de Jesus Cristo nascer como homem e fazer expiação pelos pecados dos homens?

A justiça de Deus

A Lei de Deus, declarada em sua Palavra, foi dada ao homem para que ele a obedecesse e, com isso, glorificasse a Deus. Entretanto, o primeiro homem, Adão, no exercício do seu livre-arbítrio (que o encerrou consigo mesmo), escolheu a desobediência e, assim, todo homem depois dele não conseguiu escolher outra coisa, já que estava escravizado pelo pecado, cego e morto espiritualmente (João 5:40, Romanos 3:9-18, 2 Coríntios 4:4). Em termos de legalidade, o que é exigido do culpado é que seja penalizado, cumprindo a pena que é merecida. Desta forma, Paulo indica:

Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor. Romanos 6:23

Assim é o destino do homem culpado perante Deus: a morte, como culpa que é trazida a conhecimento pela Lei de Deus, que, antes, o homem tentou, por obras, obedecer para alcançar justiça de Deus, mas não conseguiu (Romanos 3:20).

Qual a esperança para o condenado à morte?

A morte de Jesus Cristo, homem

Utilizando-se de uma linguagem jurídica (Romanos 3:21-26), Paulo explica que o homem condenado é, pela fé, advogado pelo Cristo, que é oferecido em sacrifício, assumindo a ira da justiça de Deus.

Para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e levou as nossas doenças.Mateus 8:17

Pela morte de Cristo, o homem é, então, justificado (tornado justo) diante de Deus, gratuitamente, mediante a redenção obtida pelo sangue de Cristo.

Eu disse que não iria falar sobre desconsideração a ações e práticas “natalinas”, mas preciso dizer: entristece-me o “feliz Natal” se resumir a festas, presentes, ao “bom velhinho”, aos pais e adultos recomendando crianças o bom comportamento com vistas ao presente no final do ano, enquanto se desconsidera a morte sacrificial de Cristo. Foi por isso que ele veio ao mundo, pois, caso contrário, nossa justa condenação seria certa e mortal.

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.

João 3:16-19

Mas se o salário do pecado é a morte e Jesus Cristo morreu, pagando este preço, isso não faria da morte a vencedora e encerraria a vida?

A ressurreição de Jesus Cristo, homem

Anteriormente falando aos Coríntios, Paulo disse:

Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.
1 Coríntios 15:19

É certo que há uma esperança para os que morreram com Cristo, porque ele não permaneceu morto, mas venceu a morte, e ressuscitou. Fez isso para vencer a morte e encerrar em si mesmo o domínio dela sobre o homem e para demonstrar que o novo nascimento ocorre para aquele que nele crê, para eternidade.

Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem.
Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem.

1 Coríntios 15:20-21

E assim Jesus Cristo declara ao sábio judeu Nicodemos: quem não nascer de novo não pode ver o reino de Deus, então é necessário nascer de novo, o que só acontece por meio do próprio Filho, o Cristo, o ressurreto, o que venceu a morte, para dar vida, vida eterna (João 3).

Como homem, Jesus Cristo nasceu, morreu e ressuscitou. Como Deus, ele existe na eternidade. Como ser com duas naturezas, mas o mesmo em um só, ele resolveu tomar sobre si mesmo a nossa culpa, o peso que estava sobre nós, se fazendo maldito, por minha, por sua, por nossa causa.

Não precisa ficar com a imagem da “Paixão”, o filme, do Cristo sofredor, coitado e merecedor de nossa compaixão, muito pelo contrário, ele suportou tudo isso tanto por nós quanto pelo amor do seu próprio nome, para sua própria justiça, para sua própria glória. Poderia não tê-lo feito ou feito de outra forma, mas foi necessário para cumprir sua própria Palavra.

Sei que isso tudo é assunto que dá até a páscoa, mas não consigo pensar em Jesus Cristo sem visualizar a sua história como Deus-que-se-fez-carne e habitou entre nós e nos motivos que o levaram a fazer isso.

E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus PaiFilipenses 2:11

Toda honra e glória ao vencedor, Jesus Cristo, o Senhor!